18/11/2015 - Consumidor
Busca por saldar dívida expõe dramas
1º Mutirão de Recuperação de Crédito viabiliza acertos de contas que ficaram para trás em razão de problemas de toda ordem

foto/divulgação: Petra Mafalda

Evento vai até a próxima sexta-feira

Chuva fina ou sol escaldante não dificultam a ida de devedores ao 1º Mutirão de Recuperação de Crédito, que acontece desde segunda (16), no Largo da Catedral. Para eles, tempo ruim tem outro significado. Problemas oriundos de doenças graves, da falta de emprego e de ser a única fonte de renda de família cujo número de dependentes só aumenta são algumas das razões que levam à inadimplência.

Mas a Secretaria de Defesa do Consumidor de Florianópolis estará com o mutirão até sexta-feira (20), junto com a Casan a Celesc, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Santander, o Bradesco e a CDL, em busca de solução para os casos. O evento acontece das 9 às 17 horas. Para receber atendimento, que respeita a ordem de chegada, os interessados precisam apresentar-se pessoalmente e munidos de Carteira de Identidade, CPF e comprovantes de renda e de residência.

O auxiliar operacional Marcos Antônio dos Santos, de 53 anos, buscou atendimento no estande da Casan nesta quarta-feira (18), e saiu de lá satisfeito. Sem água em sua casa desde segunda-feira, devido à conta atrasada há quase quatro meses, conseguiu negociar uma forma de pagamento condizente com sua realidade financeira. Ele convive faz uns nove anos com uma doença crônica no tecido conjuntivo chamada espondilite ancilosante, caracterizada por uma inflamação da coluna vertebral e das grandes articulações, e os gastos com o tratamento têm 'encurtado' seu dinheiro.

“Se não tivesse sido possível parcelar, ia ficar complicado. Teria que pagar as contas, porque não poderia ficar sem água, mas ia apertar o bolso”, testemunhou Marcos. Ele comprometeu-se a pagar uma dívida de cerca de R$ 900,00 (já contando uma fatura que ainda não venceu) em uma entrada de R$ 94,00 e seis parcelas de R$141,00. Pagando o primeiro boleto, voltará a ter água nas torneiras do domicílio.

Por coincidência, o relato de um outro problema de doença degenerativa foi o que mais impressionou o supervisor de atendimento do estande do Banco do Brasil, Carlos Brum, funcionário da instituição há 31 anos. “Isso aqui está parecendo um confessionário. Só falta a batina, de tantos dramas que ouvi, tanto de ordem econômica, de saúde e de perdas”, comentou Brum.


Ele contou que uma senhora procurou o mutirão para reescalonar o 13º salário que adiantou para conseguir pagar as injeções que o marido, em estado terminal, precisa tomar, ao custo de R$1,8 mil cada, sendo que o enfermo recebe um salário mínimo ao mês, e ela tem renda mensal por volta de R$3 mil. “Ela até chorou e precisamos buscar água para acalmá-la”, contou o bancário.

Mas, ainda segundo Brum, a perda de emprego e o compromisso de sustentar família e agregados com uma única fonte de renda foi o que mais verificou ter levado inadimplentes ao desacerto em suas finanças. “Tem muito idoso responsável ou co-responsável pelos netos, ou seja, bancando a família dos filhos, e, às vezes, sustentando até os bisnetos”, disse.

Agora, também há quem se endivide para ajudar os outros.  Foi o caso de Gercicleide de Jesus, 27 anos, que esteve no 1º Mutirão de Recuperação de Crédito acompanhada do marido e da filhinha bebê. Ela relatou que em 2013 pegou empréstimo de R$ 2 mil do Banco do Brasil para uma conhecida, que não pagou o que devia.

Ou seja, Gercicleide também acabou não pagando a dívida (que já está em R$3,9 mil), foi cortada da carteira de clientes do banco e, embora não tenha entrado no Serviço de Proteção Crédito (SPC), seu nome está com restrições no mercado financeiro. Tentou financiar R$ 5 mil no Bradesco para comprar um carro usado e não conseguiu, por causa da inadimplência com o Banco do Brasil. No mutirão, foi orientada a procurar a agência de cobrança terceirizada pela instituição para cuidar de casos do tipo, porque quer buscar forma de pagar o empréstimo para regularizar sua situação.

Bancos

Bancos, Casan e Celesc estão oferecendo no mutirão uma série de vantagens, entre elas, a ampliação do parcelamento dos débitos e isenções de juros e multas.

O Bradesco aceita revisar contratos não ajuizados com saldo a pagar de até R$ 20 mil. Já os benefícios a serem concedidos para fins de conciliação vão depender de uma série de variantes como o tempo e o tipo de negócio. O Santander negocia dívidas de até R$ 20 mil, no local, sendo que os descontos vão igualmente depender das faixas de atraso. A Caixa Econômica Federal não tem limite de negociação, mas está ciente de que os acordos vão depender da capacidade de pagamento do cliente.

O Banco do Brasil adianta, apenas, que, “quanto às condições negociais de renegociações existem muitas variáveis que impactam no prazo, taxa e demais condições, tais como, se cliente PF (pessoa física) ou PJ (pessoa jurídica), linha contratada originalmente,
garantias, dentre outros”.

Casan

No mutirão, os clientes inadimplentes da Casan tem a mesma chance de negociação, independente de terem ou não entrado com ação na Justiça. Aos que se encontram em dívida de 1º de janeiro de 2005 a 30 de novembro de 2014, a empresa oferece isenção de 100% dos juros e multas para parcelamentos em até 24 meses, e isenção de 80% dos juros e multas para parcelamentos de 25 a 36 meses. Em ambas as situações, não será excluída a atualização monetária.

Isto implica em dizer que, quem estiver inadimplente de 1º de dezembro de 2014 até o momento, ou seja, há menos de um ano, não terá direito aos benefícios. Para esta situação, vai continuar valendo o parcelamento normal de até 36 meses, com incidência de juro de 1% e multa de 2%, mais a correção monetária, aplicado fora do mutirão.

Em Florianópolis, 9.520 usuários da Casan, de um total de 98.946, devem o montante de R$ 26.052.652,22, o que representa 14,6 % de quanto a empresa teria a receber. Já na Grande Florianópolis, são 15.620 usuários, de um total de 194.933, com dívidas que somam R$ 37.645.457,40, o que equivale a 21% do valor que a Casan deveria receber, na região.

No evento, a Casan está representada num estande.

Celesc
 

Já a Celesc atende somente os casos de inadimplência não ajuizados para fins de conciliação no 1º Mutirão de Recuperação de Crédito. Para os clientes em débito que não recorreram ao Judiciário, reduz de 33% para 10% o percentual de quitação das dívidas no ato do parcelamento que, no mutirão, aliás, também pode ser feito em até 12 vezes. Fora dali, é permitido pagar o montante em, no máximo, seis parcelas. Ainda durante o evento, a Celesc concede isenção da multa de 2% cobrada habitualmente. 

Em Florianópolis, a Celesc tem a receber dos clientes devedores 1,74% da arrecadação da empresa que, em valores, corresponde a um total de R$ 8.037.252,00. Na Grande Florianópolis, este índice sobe para cerca de 17%.

A Celesc participa do mutirão com uma unidade móvel de atendimento. 

Consultas
 

No mutirão, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Florianópolis está à disposição do público para consultas gratuitas de verificação dos clientes das empresas associadas que se encontram no SPC.


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