Secretaria Municipal de Educação

26/10/2016 - Educação
Juntas, mãe e filha concluem estudos na EJA
Francielli Cachoeira, 33, e Brenda ,18, terminam este ano o ensino fundamental

foto/divulgação: Fábio Ramos

Mãe e filha já sonham com a graduação

Aos 14 anos, Francielli Cachoeira fez o primeiro teste de gravidez. Os receios de uma gestação não planejada foram confirmados, e na flor da mocidade ela despediu-se das vestes de menina para se tornar mulher. Teve também que deixar a casa dos pais em Curitiba, Paraná, pois a notícia que um bebê estava a caminho não foi recebida com muita alegria pela família.

 

Começou então uma nova vida ao lado do pai da criança, que aos 17 anos descobriu a primeira paternidade. Os dois, jovens e inexperientes, passaram a explorar um mundo diferente, repleto de incertezas e preocupações da vida dos adultos. Mais tarde, o casal descobriria que seriam os responsáveis por uma menininha, a quem dariam o nome de Brenda.

 

Essa história ocorreu há 18 anos. Poderia ser sobre personagens fictícios de um livro qualquer, porém, é o relato de mãe e filha que hoje estudam juntas na Educação de Jovens, Adultos e Idosos, EJA, órgão ligado à Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis.

 

MÃE, TRABALHADORA E ALUNA

 

Após ter descoberto a gravidez, Fran e o ex-companheiro moraram juntos durante nove anos. Da relação entre os dois, nasceu uma segunda menina, a Isadora, que está com 15 anos.

 

Há dois anos, mãe e filha não sentem os abraços calorosos uma da outra. A adolescente está morando com os tios em Utah, uma cidadezinha localizada no oeste dos Estados Unidos. “A saudade aperta todos os dias. Mas, nós conversamos muito pelas redes socais. A Isadora quer ser médica pediatra. É uma menina muito estudiosa e comprometida. Sempre me deu muita força para que eu não desistisse dos estudos e desejos”, comenta a mamãe coruja, que também é responsável pela Daniela, de 10 anos, fruto de um segundo casamento.

 

Esses dois pensamentos, jamais desistir de estudar e sonhar, Francielli carrega consigo desde que voltou para a sala de aula há quase dois anos. O retorno começou em Curitiba, mas após se mudar definitivamente para Florianópolis, ela ingressou no núcleo da EJA Leste III, da Escola Básica Municipal Maria Conceição Nunes, no Rio Vermelho.

 

Natural de Xaxim, cidade do Oeste catarinense, Francielle e os pais se mudaram para a capital paranaense quando ela ainda era criança. Entre idas e vindas, conheceu Floripa em visita a outros familiares que moram na região.

 

“FORMAM NÃO SÓ UM PROFISSIONAL, MAS UM BOM CIDADÃO”

 

Todos os dias, das 19h às 22h15, Francielli atravessa os portões da EJA para estudar. Moradora do Rio Vermelho, aos 33 anos, vai para a sala de aula com o coração repleto de ideias.

 

A ida até o estabelecimento de ensino não ocorre de forma solitária. A filha mais velha, Brenda, acompanha a mãe nessa jornada. “Ela reprovou algumas vezes na escola, no ensino regular. Após eu ter ingressado na EJA, a Brenda se interessou pela metodologia e resolveu me acompanhar para que juntas nós concluíssemos os estudos. Somos muito amigas, e nos apoiamos bastante uma na outra para continuarmos essa caminhada”, diz.

 

Na modalidade da educação básica os estudantes são incentivados a realizarem pesquisas sobre os temas que lhes interessam. Fran já produziu trabalhos sobre sustentabilidade, consumismo e religião. “Gosto de saber mais sobre temas da atualidade, que interessem a todos. Concluo os estudos no final do ano, e estou aprendendo cada dia mais”.

 

Ela e a filha já apresentaram alguns projetos juntas, “mas decidimos fazer com outros colegas de sala para variarmos o aprendizado”, completa Fran.

 

Para Brenda, “estudar com minha mãe é super bacana. Passamos mais tempo juntas e nos ajudamos quando é preciso. Gosto bastante da metodologia de ensino da EJA, ainda mais que podemos escolher o tema que queremos aprender”.

 

Sobre os amigos de turma, a estudante comenta que se surpreendeu pela diversidade de faixas etárias. “Achei que estaria no meio de pessoas da minha idade ou mais velhas. Mas me enganei. Há muitos jovens. Gosto bastante de estar no meio deles, sempre dou conselhos para que aproveitem a vida. Eu despertei para a vida adulta muito cedo, e passei por uma infinidade de dificuldades. Eles não precisam repetir esses passos”, afirma Fran.

 

 

“O FUTURO A GENTE CONSTRÓI”

 

Engenharia ambiental, professora, policial ambiental, técnica em sustentabilidade. Esses são apenas alguns dos sonhos de Francielli Cachoeira para a graduação. A corretora de imóveis, faxineira e mãe de três filhas, almeja o ensino superior. A motivação é inspirada em ver conhecidos mais velhos persistirem nos estudos.

 

“Às vezes me pergunto se com a minha idade vou conseguir ingressar em uma sala de aula para iniciar a graduação. Isso me faz lembrar uma senhora que conheci. Aos 65 anos ela era estudante de psicologia. Tomei vergonha na cara e parei de reclamar”, comenta.

 

Já Brenda deseja terminar os estudos e fazer alguns cursos. “Penso em fazer faculdade, mas ainda não tenho certeza do curso. Eu tenho um tio que trabalha em cruzeiros e viaja o mundo inteiro. Gosto da ideia de poder conhecer vários lugares extraordinários, então, vou fazer um curso de línguas e intercâmbio”.

A jovem ainda completa, “meu maior sonho é trabalhar com música. Eu e minha mãe já compomos algumas canções juntas”.

 

“NUNCA PARE DE ESTUDAR”

 

Apesar de ter interrompido a escola cedo, Francielli nunca saiu realmente da sala de aula. Em casa, ela lia muito, principalmente livros de português, filosofia e conhecimentos gerais. Por isso, as dificuldades para escrever e interpretar textos são mínimas.

Mas, além de ler bastante, é compositora nas horas vagas. “Puxei o talento do meu pai que já gravou alguns CD’s, só que de música sertaneja. Gosto de canções com letras conscientes. Meus estilos preferidos são o reggae e o rap”.

 

Para completar, ela completa: “Meu recado para os jovens é que abram a mente. Que saibam utilizar a internet para o bem, pesquisem muito e consultem também obras físicas. Incentivo minhas filhas da mesma forma, porque o futuro a gente constrói nos detalhes”.


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