Secretaria Municipal de Educação

20/06/2017 - Educação
Cozinheira trabalha na mesma escola em que estudou há 38 anos
Lourdes Bernardina de Barcelos frequentou a Escola Municipal de Florianópolis Batista Pereira entre 1963 e 1966, e desde 2004 atua na unidade

foto/divulgação: EBM Batista Pereira

Em 2004, dona Lourdes começou a trabalhar na Escola Batista Pereira, onde estudou há 38 anos

Filha de Bernardina Constância Martins e José Severiano Martins, Lourdes Bernardina de Barcelos nasceu no dia 13 de março de 1955, em uma casa pequena no Ribeirão da Ilha, onde chovia muito dentro. O nascimento, feito por uma parteira, foi muito difícil, e suas tias tiveram até que apelar para a simpatia para ajudar na saída do útero da mãe.

 

A infância foi simples, mas bem aproveitada. Estudava de manhã, fazia as atividades de casa à tarde e jogava cartas com os pais à noite. Quando havia tempo, escutava as rádios Guarujá e Diário da Manhã para ouvir música caipirinha, e como pisciana, ficar por dentro do horóscopo.

 

Criava suas próprias brincadeiras. “Até recordo que eu e meus dois irmãos mais velhos, a gente colocava o menorzinho em um cobertor para lustrar e encerar a casa toda. Era uma diversão só!”, conta.

 

Dormia em colchão de capim e em travesseiro preenchido por macela. Como morava perto do mar, a família dependia muito dele. Tiravam o berbigão para comer, plantavam mandioca para produzir farinha e criavam poucas cabeças de gado leiteiro.

 

Lourdes lembra que adorava a galinha caipira que sua mãe fazia, com pirão de feijão. Era encantada pelo carnaval e as festas ao som da Banda da Lapa, que agitava e deliciava os ouvidos do povo.

 

Mesmo longe de casa, ía a pé para a Escola Municipal Batista Pereira, onde tinha uma melhor amiga chamada Maurina. Ela era o anjo da guarda de Lourdes, sempre a defendendo das meninas que implicavam com ela.

 

Recorda que gostava de português, que cantava o hino nacional todo dia e que havia sagu na merenda. Ficou triste porque o colégio só tinha turma até a quarta série primária. O que era uma pena, porque Lourdes gostava de estudar. “Meu pai deu preferência para a formação dos meninos”, que rumaram para um banco escolar em outra comunidade.

 

Esse sonho de menina, porém, de voltar a estudar, ocorreu mais tarde, aos 48 anos de idade. Foi cursar a EJA: Educação de Jovens, Adultos e Idosos, ligada à Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis. Conseguiu concluir o ensino fundamental.

 

O retorno à infância

 

Lourdes estudou na Escola Básica Municipal Batista Pereira de 1963 até 1966. Em 15 de dezembro daquele ultimo ano, com assinatura da diretora Vilma Vieira de Souza, recebeu o certificado de conclusão do Curso Primário Elementar, emitido pelo então Departamento Municipal de Educação.

 

Em 1996, como cozinheira, ingressou na prefeitura. Trabalhou na função na Escola Básica Anísio Teixeira, na Costeira, para em seguida, em 2004, retornar ao espaço da sua infância: a Escola Batista Pereira, onde está até agora.

 

“Cozinhar para tantas pessoas é trabalhoso, mas muito gratificante”, relata.

“Todos os dias são marcantes, pois eu amo o meu trabalho. Adoro trabalhar com as crianças”.

 

A colega de panelas, Adriana Nascimento, rasga elogios para dona Lourdes. “Ela é uma profissional excelente, dedicada, gosta de ajudar as pessoas”.

 

Outras colegas também exaltam a cozinheira. Raquel Matiola, supervisora escolar, afirma que Lourdes já é patrimônio do estabelecimento de ensino. “Ela é prestativa, dedicada e carinhosa”. A professora Maria Adelina da Silva dos Santos, a Dily, declara: “Verdadeiramente um ser humano. Doce, apaziguadora, carinhosa, verdadeira, ética”.

 

Os estudantes Maria Eduarda Félix, Laurien Dachi, Letícia de Souza e Luizy Machado deixam um recado: “Dona Lourdes, você é uma pessoa muita importante para o colégio. Você é uma mulher muito querida, muito fofa, que trata todos os alunos muito bem. Sempre ajudando do jeito que sempre pode em casos especiais. Nós te amamos muito”.

 

Em 1979, aos 24 anos, no altar da igreja, disse “sim” para Neri Leonicio de Barcelos, com quem teve Rafael, hoje com 36 anos. Quando está de folga, fica ao lado do esposo, 63 anos, para namorarem um pouco.  Faz uma comidinha para o casal e dá umas pedaladas com a sua bike. Assim é a dona Lourdes.

 

União da comunidade

 

De acordo com o secretário de Educação Maurício Fernandes Pereira, a história de dona Lourdes ilustra a união da comunidade escolar da rede. “Esse caso mostra a harmonia entre crianças, professores e servidores das unidades e como isso é importante para a educação”.


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