Secretaria Municipal de Educação

08/07/2016 - Educação
Um recomeço: Haitianos, Sírios e Dominicanos são diplomados em Língua Portuguesa
Coordenada pela Secretaria de Educação, cerimônia ocorre na terça-feira

foto/divulgação: Divulgação

Ao contrário do que muitos imaginam, 80% desses imigrantes dominam o inglês

A vinda de estrangeiros para Florianópolis tornou-se crescente nos últimos anos. Alguns procuram por uma qualidade de vida melhor, outros enxergam a Ilha da Magia como a cidade das oportunidades. Cada um com seus motivos e histórias pra contar. Na busca por auxiliar na adaptação desses novos moradores, a Secretaria Municipal de Educação promoveu em 2014 o primeiro curso de Língua Portuguesa para imigrantes. Após quase dois anos, chegou a hora da formação dos estudantes, que ocorrerá nesta terça-feira, 12, às 20h na Escola Básica Municipal Almirante Carvalhal, em Coqueiros.

 

Farão parte da cerimônia de colação 50 alunos, entre eles sírios, dominicanos e em maior parte, haitianos que vivem na Capital. Neste primeiro momento, os imigrantes serão certificados pela linguagem oral, o que significa que já estão aptos para conversar em português. No final do ano, serão entregues os certificados para os que dominam a escrita. O curso é ministrado pela parceria do programa de Diversidade Étnico-Racial e pela Educação de Jovens, Adultos e Idosos – EJA.

 

Segundo Esther Oliveira, professora e articuladora do projeto, é uma imensa alegria ouvi-los falar o português com tanta clareza. “Nosso objetivo está sendo cumprido aos poucos. Ao contrário do que muitos imaginam, 80% desses imigrantes dominam o inglês. Alguns falam em espanhol, francês e até em alemão. Temos alunos com ensino superior incompleto e completo. No entanto, é difícil para eles conseguirem emprego na área que atuam”, afirma.

 

Um exemplo de dedicação

 

Esther foi a professora encarregada de dar aulas aos imigrantes. Atualmente, a profissional leciona para 120 alunos matriculados no curso. No entanto, uma média de 300 alunos participaram do projeto desde o início das atividades.O número de estudantes é dividido em dois polos onde ocorrem as aulas, na Escola Almirante Carvalhal e Fundação Vidal Ramos, no Centro de Florianópolis.

A servidora trabalha na Educação do município desde 1997. Em 2014, foi convidada pelo ex-secretário de Educação Rodolfo Pinto da Luz e pela gerente de atividades complementares do ensino fundamental, Sônia Carvalho, para assumir o primeiro curso de Língua Portuguesa direcionado para imigrantes.

 

Na época, Esther estava readaptada na Escola Municipal Henrique Veras, e aceitou assumir o desafio. “Até aquele momento da minha vida não havia trabalhado com os estrangeiros. No entanto, alguém tinha que os ensinar, e decidi assumir a tarefa. Tive que pensar em algumas estratégias para facilitar o aprendizado das turmas”, comenta.

 

A carta na manga

 

Para isso, Esther contou com a ajuda do filho mais velho, o Silvio, que passou três anos nos Estados Unidos, correndo atrás de um sonho. “Meu filho foi para lá (EUA) com objetivo de levantar dinheiro e concluir o curso de piloto aqui no Brasil. Sempre que ía preparar minhas aulas, eu o enxergava em uma terra estranha e pensava nas possíveis dificuldades que ele poderia passar no país”, diz.

Esther ainda completa: “Imaginei várias situações. O que ele poderia precisar se fosse ao mercado, como pedir um alimento nos estabelecimentos, se precisasse explicar algum problema de saúde, como faria”.

 

Nos dias de hoje, Silvio é um homem realizado, épiloto da companhia de aviação Azul. Mora em São Paulo, e aos 34 anos está casado e é pai de trigêmeos. “A perseverança de meu filho serviu de motivação para meus alunos. Em alguns momentos, usei o exemplo de sua trajetória para incentivá-los a permanecer na caminhada. Uso esse exemplo de vida quando faço palestras para dependentes químicos. Meu filho não teve pai presente e, no entanto, preferiu o melhor lado da vida”, completa Esther.

 

Seguindo essa linha de pensamento, a professora de Língua Portuguesa passou a planejar as aulas de acordo com as necessidades que seus alunos enfrentavam. Então, trouxe para a turma situações reais, coisas do dia a dia. Conciliando a gramática com a fala, ela ensinou aos estudantes diversas frases e palavras que enriquecessem o vocabulário para ajudá-los a passar por diferentes conflitos, desde uma ia ao médico até a uma entrevista de emprego.

 

Vidrada em classificados

 

“Foram muitas as vezes em que eu os acompanhei nas entrevistas de trabalho. Eu fico vidrada nos classificados e, quando vejo alguma função compatível com eles, já encaminho currículos (nós tivemos uma aula dedicada à confecção dos currículos). Além disso, fizemos um mapeamento das UPAs, hospitais e maternidades, a fim de que soubessem para onde ir em caso de emergência”, complementa.

 

Os estudantes também participaram de saídas de campo. Desde visitas aos pontos turísticos e históricos da Capital, até passeios na Lagoa da Conceição e Barra da Lagoa, pois muitos dos imigrantes não conhecem ainda praias. “Eu sonho em levá-los à Ilha de Anhatomirim e ao Beto Carrero”, diz.

 

“Somos todos uma grande família”

 

No próximo ano Esther estará se aposentando. Mas, o receio de deixar a sala de aula já pesa no coração. “Não sei se conseguirei deixar meus alunos. Para eles eu sou como uma ‘mãe’, a quem eles podem ligar, mandar mensagens, pedir ajuda e conselhos’, diz.

O laço criado com os alunos ultrapassa as paredes da sala de aula.

“Compartilhamos os momentos de alegria, tristeza e conquista uns dos outros. Alguns dos meus alunos já saíram daqui e foram para outros países, mas mesmo assim, longe, me mandam mensagens e mantemos o contato. Somos todos uma grande família.”, completa.


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