Secretaria Executiva de Comunicação Social

23/09/2014 - Comunicação
Tirado das ruas, idoso tem história surpreendente
Valter Dias da Silva é funcionário aposentado do antigo INAMPS

foto/divulgação: Petra Mafalda/PMF

Seu Valter na Casa de Acolhimento e Albergue Municipal de Florianópolis

O pernambucano Valter Dias da Silva, que no próximo dia 3 completa 77 anos, ex-morador de rua que atualmente encontra-se na Casa de Acolhimento e Albergue Municipal – o primeiro albergue municipal de Florianópolis – tem chamado atenção pela sua história de vida. Filho de oficial da Aeronáutica que foi piloto de caça e funcionário aposentado do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), ficou quase um mês ao relento por falta de dinheiro e de apoio. Agora, está no aguardo de um processo aberto junto à Defensoria Pública da União para reaver seu direito à aposentadoria.

Basta uma rápida conversa para se perceber que Valter já teve uma vida boa. Filho único de José Batista Braga e Isaltina Dias Braga, nasceu em Recife (PE), onde chegou a ter aulas de latim, francês e inglês em escola particular e a estudar em colégio militar. Ainda que não tenha concluído o que hoje é conhecido por ensino médio, demonstra bastante sabedoria e orgulha-se em citar frases célebres dos pensadores Confúcio e Voltaire – lembranças que guarda de um livro que gostava de ler que pertencia ao pai.

Valter veio a Santa Catarina pela primeira vez a trabalho por uma empresa carioca para fazer ensaios de solo no município de Rio do Sul. E foi nesta cidade que, anos mais tarde, fixou residência e atuou, pelos seus cálculos, por 17 anos, no INAMPS. Segundo ele, foi aprovado em concurso público para auxiliar de serviços médicos, sendo que depois passou a exercer o cargo de agente administrativo, tendo chegado até o último grau de promoção. Mesmo assim, aposentou-se apenas com um salário mínimo, o que o levou a continuar trabalhando, inclusive, em circo.

Ainda de acordo com seu depoimento, após 23 anos recebendo a aposentadoria, teve o benefício negado, sob o argumento de que precisaria ter sido contratado pelo regime estatutário, e não celetista, como era o seu caso. Isto aconteceu em 2010, e desde então, já com a idade avançada para trabalhar, passou a viver das economias que havia feito, no valor de cerca de R$ 60 mil. Enquanto teve recursos financeiros, pagou aluguel de uma kitinete e viveu sozinho – já estava separado da mãe de seu casal de filhos - como pôde.

O idoso, que diz não ter qualquer envolvimento com álcool e drogas, não quis morar no município de Lontras com o filho caçula, Valter da Silva Júnior, com quem tem algum contato, pois sabia que a ideia não agradava a nora. Mas chegou a telefonar a cobrar para a filha, Valdete Dias da Silva, que reside em Rio do Sul, que, segundo seu relato, não aceitou a ligação, após a identificação da chamada.

Encontrando-se desamparado em Florianópolis, resolveu passar as noites sobre um pedaço de papelão debaixo de uma marquise na qual conseguia se abrigar da chuva, próximo à Igreja São Francisco, no Centro. Alimentava-se apenas do sopão oferecido por voluntários todas as noites e de um pedaço de pão que acompanhava a refeição, que guardava para fazer o desjejum quando acordava pela manhã. Ficou sem banho por quase um mês.

 “Tem gente que é acostumado a pedir. Eu não sou. Sou acostumado a conseguir dinheiro com o meu suor”, contou. Desde meados de junho, passou a ter atenção da Secretaria de Assistência Social. Na Casa de Acolhimento e Albergue Municipal, além de boas condições de alojamento, ele está recebendo três refeições diárias, apoio psicológico da equipe de abordagem de rua e atendimento por assistentes sociais.


galeria de imagens