29/05/2014 - RESIDUOS - Meio Ambiente
Alemanha é bom exemplo para Brasil em reciclagem
Aproximar academia e indústria fez país europeu andar mais rápido

foto/divulgação: Solon Soares/Alesc/Divulgação

Marius Bagnati

Com 535 congressistas entre 27 e 28 de maio de 2014, vindos de quatro países e sete estados brasileiros, o 2º Congresso Técnico Brasil Alemanha Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos tornou concreta a necessidade de aproximar as práticas com o melhor exemplo europeu para cumprir as metas da legislação brasileira.  

 

Sob a égide da Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, a Comcap em parceria com a Universidade de Braunschweig e Creed realizou o evento para reunir especialistas, operadores e reguladores do setor.

 

Aqui mais algumas das falas registradas durante o evento

 

 

Marius Bagnati, diretor de Operações da Comcap

 

  • “Desejamos que, dos contatos nesse evento, se possa formarjoint ventures para gerar empregos, oportunidades de renda  e soluções ambientalmente corretas na Grande Florianópolis e em todo o Brasil.”
  • “Em visita técnica à Alemanha, estava conosco um ex-catador que viveu até 18 anos no lixão, se alimentou dos restos daquela sociedade, depois fez cursos supletivo e universitário e hoje é  prefeito de Nova Odessa, no interior de São Paulo. O lamentável e que essa situação de vida ainda persiste em muitos municípios. A Alemanha, ao conseguir aproximar os meios acadêmico e industrial avançou muito mais rapidamente na remediação dos resíduos, tanto que estabeleceu para 2015 a universalização da coleta seletiva e do tratamento orgânicos.”
  • “Em que pesem as dificuldades, somos em Santa Catarina o primeiro Estado livre dos lixões. Em 2013, o governo concluiu o plano estadual de resíduos sólidos e a Secretaria do Desenvolvimento Sustentável liberou recursos para os planos de 126 municípios. Na região, estamos nos conduzindo para a elaboração do plano de gestão dos resíduos sólidos para os 22 do entorno de Florianópolis. Será licitado nas próximas semanas. Desde 2011, a Capital tem seu plano integrado de saneamento básico com capítulo para resíduos sólidos e, em abril, a PMF contratou seu plano municipal.”

 

Vice-prefeito de Florianópolis, João Amin

  • “Temos muito a evoluir e a aprender com os alemães, principalmente, nossos indicadores têm muito a melhor e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos faz com que nossos desafios sejam cada vez maiores. Essa cooperação e aprendizagem faz parte da melhoria que da Comcap e do município no cuidado com o resíduo. É uma área em que também há muitas oportunidades e a Alemanha é o exemplo a ser seguido. Nossos 6,5% de reciclagem, as nossas cooperativas, a geração de energia, o que fazer com lixo, tudo pode ser muito melhorado.

 

  • “Com o Acácio (novo presidente da Comcap), a valorização do pessoal, o modelo de gestão, a busca por eficiência e por melhoria continuam a ser o desafio, como foi com Ronaldo (Freire) e com Marius. Se vê que, com a empresa bem administrada, Florianópolis tende a ganhar. A mão de obra dos catadores é muito importante, agora a organização, a tecnologia, a captação de recursos inclusive internacionais disponíveis, tudo faz parte de uma boa gestão na companhia. Juntamente com o prefeito e o vice e toda administração temos o desafio de fazer com que essa empresa seja rentável e faça com que o município cuide cada vez mais do seu lixo.”

 

Juergen  Giegrich, Instituto Ifeu, sobre gerenciamento dos resíduos e sua influência na mudança climática

 

  • “Pode-se achar que a indústria do lixo e a economia dos resíduos não seja tão importante, mas a ONU diz que 2,8% das emissões de CO2 vêm do lixo. Se olharmos a partir das nossas plantas de aterro sanitários, 15 % das emissões de gases de efeito estufa poderiam ser evitadas com tratamentos mecânicos biológicos. Desde 2006, na Alemanha, os resíduos não vão para aterros sem tratamentos para reduzir os problemas de cheiro e contaminação, foi o que permitiu reduzir a emissão de gases. O potencial de redução de gases através da reciclagem é de 87% e vão para incineração somente as sobras da reciclagem e da coleta seletiva.”

 

  • “O enfoque principal para proteção do clima é areciclagem dos materiais. Na União Europeia e nos 27 países da OCDE, que incluem Austrália,Turquia, Egito, México, estamos fazendo estudos sobre redução de gases de efeito estufa. Ainda não fizemos esse tipo de cálculo para o Brasil. Estamos apurando como lidar  da melhor forma possível com os resíduos, o melhor encaminhamento, benefícios e desvantagens de encaminhar à  incineração ou para tratamento mecânico biológico. No cenário europeu, de 500 milhões de habitantes, são produzidas 250 milhões toneladas de lixo, 42% são aterradas, 21% incineradas, 8% recebem tratamento mecânico biológico, 16% vão para reciclagem e 13% para compostagem.”

 

  • “Na União Europeia 50% dos resíduos são reciclados, na Alemanha 62%, em dados de 2007. Nessa situação, a principal contribuição para gases de efeito estufa vinha do metano nos aterros, então fizemos dois cálculos, um com 20% outro com 40% de eficiência na recolha dos gases. Com os benefícios da reciclagem as emissões foram reduzidas em 114 milhões de toneladas de CO2 equivalentes. Até 2020, terá sido feita uma economia de 192 milhões de toneladas CO2 equivalentes, redução de um terço nas emissões de gases de feito estufa. Através da legislação adequada conseguimos alcançar  as metas.”

 

  • “Às vezes, em alguns locais, a boa prática se dá com níveis de tecnologia mais baixos, de forma que seja melhor aceita no município. Com as diferenças regionais, não se pode ter um modelo que serve a todos, precisa-se de abordagem individualizada, de metas, objetivos, cotas, taxas de reciclagem, ou xis por cento de materiais que não podem mais ir sem tratamento para aterros.”

 

  • “Quando analisamos os gases de efeito estufa, o melhor é ambicionar a maior taxa de reciclagem possível, porque assim vamos reaproveitar evitando novas retiradas de material primário. Precisamos  de tecnologia para evitar a geração de gases seja no reuso ou no aterro, tratamentos orgânicos biológicos, incineração, em resumo, os objetivos gestão de resíduos estão em linha com a proteção do clima no mundo inteiro.”

 

Klaus Fricke, Universidade de Brausnschweig

  • “Um único país não vai conseguir fazer diferença sozinho, nem uma gota d’água. A única forma  que temos para garantir recursos no futuro é se tivermos 90% de reciclagem em todos os lugares. Esse é o valor pelo qual temos de nos orientar."

 

  • "A hierarquia de importância no tratamento de resíduos vale para toda Europa e para o Brasil. Um item importante é a lei que define, por exemplo, na reciclagem de plástico, só o que não pode ser reutilizado é que poderá ser usado para geração de energia."

 

  • "Entre 8% a 12% de todos os gases de efeito estufa são emitidos por aterros. Há lei em vigor desde 2005 na Alemanha e a partir de 2016 na União Europeia que exige tratamento orgânico biológico ou térmico, antes do aterramento, para destruir substâncias orgânicas que podem formar metano. Foi isso que permitiu maior redução na emissão de gases de efeito estufa."

 

  • "Na Alemanha,  a gestão de resíduos não se dá só por motivos econômicos, mas foram necessárias leis e proibições. Aqui no Brasil, há uma das leis mais revolucionárias para a economia sustentável de resíduos."

 

  • "Na Alemanha, onde são produzidas 43 milhões de toneladas de resíduos sólidos domiciliares, 63% são reciclados com coleta seletiva, 24% tratados biológicos ou incinerados e apenas 5% seguem para aterro sanitário. Isso não foi colocado em prática em dois três anos, iniciamos o processo há 25 anos, 30 anos. Primeiro, separando o lixo orgânico (verde) e as pessoas diziam não iria funcionar, hoje com a coleta seletiva 63% do material é retirado do lixo."

 

  • "No Brasil, o efeito da separação do lixo de cozinha pode ser ainda maior, porque o percentual na caracterização é 30% a 40% maior do que na Alemanha. Depois, é tirar o papel, as embalagens, e no final, o vidro."

 

  • "O aumento no preço petróleo torna o plástico mais caro, o papel também, porque 70% a 80% dos custos dos produtos estão relacionados à energia. Até a compostagem se torna mais cara porque petróleo está mais caro: o nitrogênio pode ser aplicado como fertilizante, mas tem de ser tirado do ar com tecnologia que exige muita energia."

 

  • "Tudo está aumentando. A matéria-prima primária aumenta, também a matéria secundária e o que muda é que a questão dos resíduos se torna mais financiável. O preço do composto orgânico, por exemplo, aumentou no mundo inteiro. Antigamente, era preciso pagar para que fosse retirado, hoje pode ser vendido com bons preços."

 

  • "Mundialmente, se verifica a redução de até 3% ao ano na produção de embalagens. Então, o vidro não será mais problema grande, no futuro. Nem o papel, a mídia impressa, por exemplo, está acabando com a venda em papel, mantém apenas assinaturas digitais. Com isso, mais a reciclagem de papel, plástico, a proibição sacolas de plástico, haverá redução de componentes de alto valor calorífico nos resíduos. A União Europeia está trabalhando é com o aumento da sucata eletrônica, essa é uma área ainda não resolvida, inclusive na Alemanha."

 

  • "Na Cidade México fazem coleta seletiva orgânica e quando vi, não acreditei em como podia ser tão limpo o lixo orgânico. É uma matéria-prima excelente para geração de biogás e para compostagem."

 

  • "Cerca de US$ 75 bilhões eram aterrados. Esses componentes estão hoje sendo desenterrados, os aterros estão sendo abertos e gerando matéria-prima. Só com a energia dos antigos aterros se poderia abastecer a Alemanha com energia durante um ano.”

Neste link podem ser baixados arquivos de fotos e matérias sobre o evento.


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