Conselho Municipal de Política Cultural de Florianópolis

31/10/2012 - Cultura
Le Frigô leva universo transformista para o palco
Espetáculo que será apresentado na Casa das Máquinas e nos Teatros do Sesc e da UBRO, com entrada franca, foi viabilizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura

foto/divulgação: Caio Cezar

Le Frigô

As memórias de um manequim aposentado, vivendo uma crise de identidade deflagrada por um inesperado presente, conduzem a história de Le Frigô, peça que estreia nesta quarta-feira (31/10), às 21h, na Casa das Máquinas, na Lagoa da Conceição. O espetáculo, conduzido por Renato Turnes, é um dos 54 projetos contemplados pelos editais do Fundo Municipal de Cultura, gerido pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes e Prefeitura da Capital. A peça será apresentada ainda nos teatros do Sesc e da UBRO, também com entrada gratuita.

 

Com direção de Vicente Concílio, o espetáculo é baseado em Le Frigo (A Geladeira), texto original em francês de autoria de Copi (1939-1987), escritor, ator-travesti e dramaturgo que tem o transformismo como essência de sua obra. Utilizando uma linguagem contemporânea, a montagem catarinense traz como protagonista um homem travestido, que se transmuta em vários personagens construídos em cena, a partir do trabalho interpretativo do ator Renato Turnes.

 

Mesclando tons cômicos e grotescos, a peça conta a história de L., um manequim aposentado que decide escrever suas memórias. No dia do aniversário de 50 anos, depara-se com uma geladeira no meio da sala e descobre que foi presente de sua mãe. A visão frequente do eletrodoméstico deflagra em L. um surto delirante que traz à tona vários personagens de sua vida, provocando um reencontro com seus mais profundos pensamentos e fantasias.

 

Renato Turnes e Vicente Concilio apresentam um espetáculo solo de ritmo vertiginoso, guiado pela construção física de um ser “diferente” e pelas várias trocas de roupa, representando as muitas personagens que habitam o imaginário do protagonista – uma criatura de sexualidade ambígua, fetichista, andrógina e estranha que vive uma crise de identidade. Le Frigô traz referências estéticas que vão desde imagens do mundo da moda aos espetáculos de travestis de boates gays de São Paulo. Remete também à mítica Nostromondo e seus luxuosos números de dublagem e à irreverência queer brasileira dos Dzi Croquetes. 

 

Teatro transformista

 

Copi é o pseudônimo de Raul Damonte Botana, cartunista, escritor, ator-travesti e dramaturgo argentino. Nascido em Buenos Aires, em 1939, em uma família notória na cultura e na política argentinas, era filho do jornalista Raúl Damonte Taborda, fundador do jornal “Tribuna Popular”, e neto de Natálio Félix Botana, fundador do mítico jornal “Crítica”.

 

Com a família perseguida pela ditadura peronista, Copi conheceu o exílio desde a infância. Viveu em Montevidéu, Nova York e depois na Paris dos anos 1960, onde conviveu com artistas radicais como Arrabal e Jodorovski no coletivo conhecido como “Grupo Pânico”. Na França, popularizou-se como cartunista, desenhando para jornais como o Le NouvelObservateur, onde deu visibilidade à sua mais célebre criação: “A Mulher Sentada”. Escreveu várias novelas, mas foi no teatro que encontrou espaço para desenvolver sua linguagem de forma plena.

 

A obra de Copi é marcada por humor e violência transgressora, explorando as possibilidades de perturbação, transgressão e subversão das identidades existentes. O escritor propõe uma abordagem radical das identidades sexuais, desvencilhando-se das classificações limitantes dos gêneros e orientações sexuais. O universo gay, travestido, transexual e transformista de Copi é uma saída para a armadilha da cristalização identitária – e a dicotomia simplista gay ou hetero.Nega a acomodação sobre um terreno sexual normatizado, mas caminha sobre o corredor movediço de uma arte de risco.

 

A “escrita transformista” de Copi é única e aplaudida na Europa desde os anos 1980, mas praticamente inexplorada no Brasil. O escritor morreu em 1987 enquanto ensaiava “Uma Visita Inoportuna”, um de seus textos mais encenados, no qual o protagonista morre de AIDS em um hospital.

 

 Serviço:

 

Le Frigô 

 

Dia 31/10 – Casa das Máquinas – Lagoa da Conceição – 21h (gratuito)

Dia 02/11 – SESC – Cacupé – 21h (gratuito)

Dias 03 e 04 /11 – Teatro da Ubro – Centro – 21h (gratuito)

OBS: Os ingressos para as apresentações na Casa das Máquinas e no Teatro da Ubro serão distribuídos a partir das 20h no próprio local.

 

Ficha Técnica

Direção: Vicente Concilio

Adaptação: Vicente Concilio e Renato Turnes

Trilha Sonora Original: Ledgroove

Cenografia: Sandro Clemes

Boneco: Paulo.Balardim.

Figurino: Renato Turnes

Adereços de cabeça: Roberto Gorgati

Maquiagem: Robson Vieira

Desenho de Luz: Daniel Olivetto

Ilustração: Julius Schadeck

Arte Gráfica: Camila Petersen

Fotografia: Caio Cezar

Produção: Renato Turnes e Milena Moraes

Produção executiva: Milena Moraes