Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes

20/01/2011 - Cultura
Exposição no Casarão da Lagoa valoriza arte da renda de bilro
Até 18 de fevereiro, Fundação Franklin Cascaes divulga o trabalho das rendeiras que participam das oficinas de arte-educação no Centro Cultural Bento Silvério, na Lagoa da Conceição

foto/divulgação: Mauro Vaz

Tradição de fazer renda foi trazida para Florianópolis pelos açorianos

A Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) abre nesta quinta-feira (20/01) uma exposição de rendas de bilro no Centro Cultural Bento Silvério, na Lagoa da Conceição. A mostra visa divulgar o trabalho produzido pelas rendeiras que participam das oficinas de arte-educação realizadas no local durante o ano. A abertura acontece às 17h, seguida de apresentação do boi de mamão dos Ingleses.

 

Até 18 de fevereiro, os visitantes poderão apreciar almofadas, toalhas, trilhos de mesa e outros trabalhos tradicionais, que dividem espaço com peças mais contemporâneas de renda de bilro aplicadas em objetos utilitários e de vestuário, ou na decoração de ambientes como obra de arte. “A idéia é mostrar um pouco do que é feito pelas rendeiras no dia a dia e nas oficinas de arte-educação realizadas no Casarão da Lagoa, valorizando as múltiplas possibilidades deste fazer artesanal”, ressalta a superintendente da Fundação Franklin Cascaes em exercício, Roseli Pereira.

 

Em 2011, o equipamento cultural será transformado no Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis, conforme convênio firmado com a Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec) e Ministério da Cultura (Minc), dentro do Programa Nacional de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart).

 

Em breve, o prédio vai abrigar uma sala de exposição permanente com variados tipos de renda produzidos na Capital, além de loja, biblioteca e centro museográfico com acervo de fotos, vídeos, folhetos, livros e outros materiais de registro deste artesanato. Terá ainda um local para oficinas permanentes de repasse de saberes tradicionais sobre cantorias, formas de fazer o pique, pontos e almofadas, entre outras atividades. Após uma reforma, o espaço será rebatizado como “Casarão das Rendeiras”.

 

Tramas na argila

 

Um novo olhar sobre a renda de bilro de Florianópolis é o que propõe a ceramista paranaense Kátia Sestrem, que produz peças esmaltadas decorativas e utilitárias inspiradas na temática. Cinco obras da artista, reproduzindo a renda Tramoia, com piques (desenhos) que ela mesma cria integram a exposição do Casarão da Lagoa. As peças são reproduções de tramas originais feitas por rendeiras  do Pântano do Sul.

 

A técnica consiste na prensagem de uma amostra de renda na argila, deixando uma textura similar à trama dos fios. Depois que a renda é retirada, as ranhuras recebem pintura com esmalte cerâmico e, em seguida, a peça é submetida a vários processos de queima, com temperatura de até 1.020 graus centígrados. O resultado final surpreende quem se depara com as obras da artista. “As pessoas olham e pensam que a renda está colada na cerâmica e até sentem a textura, mas não tem renda ali”, observa Kátia Sestrem.

 

A artista paranaense estudou cerâmica e História da Arte na Casa de Cultura em Joinville, em 1981, dando continuidade aos estudos na Escola de Oleiro de São José. Morando em Florianópolis desde 1983, Kátia e o marido – o artista plástico Pedro Pires – montaram um ateliê na Rodovia Thomaz dos Santos nº8635, no Pântano do Sul, onde conservam um mostruário das obras e atendem encomendas dos clientes.

 

Renda de bilro

 

Não se sabe ao certo a origem da renda de bilro. Alguns pesquisadores defendem que o artesanato surgiu em Flandres, na Bélgica, no século XV, de onde se espalhou pela Europa, em especial para a Itália e França, até chegar a Portugal e arquipélago dos Açores. Ao virem para o Brasil, os portugueses teciam os fios para enfeitar trajes e alfaias da igreja, além de ornamentar toalhas, cortinas, lençois e peças do vestuário da nobreza.

 

Na Ilha de Santa Catarina, a renda de bilro surgiu por influência dos açorianos. Os primeiros imigrantes (473 pessoas) partiram do porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, rumo ao Brasil, em 21 de outubro de 1747, chegando ao destino em 6 de janeiro de 1748. Em homenagem a esses antepassados e suas tradições a Lei nº 8030/2009 instituiu a data de 21 de outubro como Dia Municipal da Rendeira, atendendo à proposição do vereador Edinon Manoel da Rosa (PSB), o Dinho.

 

Para sobreviver naqueles tempos, os homens passavam longos períodos na atividade pesqueira com redes artesanais, enquanto as mulheres ocupavam o tempo livre tecendo fios em almofadas de bilro, numa tradição cultural que foi passada de geração a geração. Entre as rendas de bilro mais conhecidas, feitas no município, estão a “Maria Morena” e a “Tramoia”, ou renda de sete pares, considerada um produto típico de Santa Catarina, sendo produzida principalmente no Ribeirão da Ilha, Santo Antônio de Lisboa e Lagoa da Conceição.

 

 Serviço:

 

O quê: Exposição de renda de bilro

 

Quando: quinta-feira (20/01) – abertura às 17h

                Visitação até 18 de fevereiro

                De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h                

 

Onde: Centro Cultural Bento Silvério – Casarão da Lagoa

            Rua Henrique Veras do Nascimento nº 50 – Lagoa da Conceição

 

Quanto: gratuito


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