Secretaria Municipal de Educação

11/04/2016 - Educação
Ex-irmã marista leva na creche os ideais fraternos
Maria Lúcia ajuda crianças e famílias de comunidades carentes do Monte Cristo

foto/divulgação: SME

Paula, Evanio, Maria Lucia e Yuri

Essa é a história da Maria Lúcia. Mulher forte, guerreira que dedicou a vida ao trabalho de ajudar inúmeras famílias nas comunidades Novo Horizonte, Chico Mendes e Nova Esperança, região continental de Florianópolis. O amor pelas pessoas é o que alimenta sua força de vontade.

 

Há 20 anos, ela viu a Creche Municipal Chico Mendes, localizada no Monte Cristo, ganhar os primeiros traços. Ao lado da associação dos moradores, lutou para conquistar o espaço que foi construído no ano de 1996. A creche, inicialmente, era composta por três salas e nove funcionários e atendia 40 crianças.


Após tantas reviravoltas,  Maria Lúcia, hoje aos 49 anos, tornou-se diretora da unidade em 2012, e está realizada ao ver a creche de cara nova. A instituição foi ampliada e novas cores ajudam a pintar o sonho dessa comunidade.

 

Atualmente, a instituição, que atende 115 crianças, passou por instalação de calhas e drenagem pluvial, troca de telhado, revitalização de cozinha e banheiros. Houve ainda a ampliação do refeitório e criação de uma lavanderia. Um novo parque também foi instalado para os pequenos.

 

“As pessoas precisam conhecer os direitos que lhes são assegurados. A creche é um direito de todas as famílias aqui. Juntos, vamos construir um novo capítulo dessa história”, afirmou Maria Lúcia.

 

Do interior do Paraná

O ano era 1984. Ao atingir a maioridade, no auge da juventude, Maria Lúcia tomou a decisão que selaria sua vida para sempre: se tornar freira. O coração, apesar de triste por se despedir do pai e dos sete irmãos, estava tomado por único desejo: fazer o bem ao próximo.

 

Foi na cidade de origem, Andirá, no interior do Paraná, que Maria conheceu o trabalho da congregação Irmãs Maristas. Na época, frequentava a igreja católica local e soube do trabalho social que prestavam na cidade. Ali, viu a oportunidade de atuar junto às pessoas carentes.

A cidade pacata, que se desenvolveu através da agricultura, ficou só nas lembranças.  Maria Lúcia percorreu 408 km até Curitiba. A capital paranaense, na época, abrigava o convento Irmãs Maristas, no qual Maria Lúcia desejava ingressar. “Percebi que poderia estudar e trabalhar ajudando pessoas. Decidi que esse era o propósito da minha vida”, disse.

 

No convento, permaneceu durante três anos, onde também concluiu o ensino médio. Em 1988, foi transferida para Florianópolis, para o bairro da Coloninha, onde havia uma sede das Irmãs Maristas. Lá, participou de diversos projetos sociais e deu continuidade aos estudos teológicos.

 

Também começou a trabalhar ativamente nas comunidades da região do Monte Cristo, nas associações de moradores e entidades não-governamentais. Ela se envolveu cada vez mais com ações beneficentes, por enxergar, principalmente, as lutas, dificuldades e até mesmo a violência que as pessoas sofriam.

Quando da ocupação do Monte Cristo, famílias, de vários lugares diferentes, estavam se alojando no local. Maria fez parte do grupo de pessoas que ajudavam tantas outras a se estabelecerem na região. Além cuidar das crianças, participou na batalha de resistência para que todos pudessem permanecer na comunidade e construir suas vidas de maneira digna.

 

Foi durante esse trabalho, em meio a muitas crianças, que Pedro, de 6 anos, a encontrou. Ele a acompanhava por todos os lugares. Adorava ficar próximo dela. Até que um dia perguntou se poderia se tornar filho de Maria Lúcia.

“Eu disse pra ele: ‘lá no convento não tem crianças’ ”.

 

A separação e o filho do Coração

Aos poucos, Maria Lúcia percebeu que não precisava ser uma freira para ajudar pessoas carentes. Por isso, decidiu sair da congregação e foi convidada por uma amiga, Ivone, a morar em sua casa, localizada no Monte Serrat, popular Morro da Caixa, na Ilha de Santa Catarina.

 

Ao mesmo tempo, Pedro e a família, juntamente com outras pessoas, foram transferidos para um terreno na cidade de São José. Mesmo afastados, o amor e amizade construída entre o menino e a ex-futura freira fizeram com que, de alguma forma, o destino os unisse novamente.

 

Através da própria mãe, Pedro ficou sabendo que Maria Lúcia tinha deixado a congregação. E foi quando Maria fez uma visita à nova moradia do pequeno que ele aproveitou para fazer novamente o pedido.

 

“Eu sei que você saiu de lá. Agora pode me levar pra morar contigo”

Maria aceitou o pedido e perguntou para Ivone se Pedro poderia morar com elas. A amiga aceitou a ideia. A adoção aconteceu com o consentimento de mãe biológica do menino. Ela tinha consciência de que, mesmo amando seu filho, não tinha condições de criá-lo.

Maria Lúcia, ainda solteira, continuava seus trabalhos, mas agora tinha algo a mais: a responsabilidade na educação do pequeno Pedro. Apesar da idade, ele não teve dificuldade em acompanhá-la no serviço que prestava nas comunidades.

 

O tempo passou, e após um ano morando no Monte Serrat, sentiu a necessidade de ter a casa própria. Com o dinheiro que tinha guardado e a ajuda de um casal de amigos, conseguiu comprar uma moradia na Santa Terezinha II, no Continente.

 

O amor acontece

Em 1994. Maria Lúcia e Evanio Carlos se apaixonaram. Ele veio da cidade de Urubici, morar com o pai Lauro e o irmão Cezar. Foi numa festa na comunidade Santa Terezinha que os dois se encontraram e começaram a conversar.  Após um tempo, engataram o namoro e logo se casaram. Dessa relação nasceram dois filhos: Juan Diego,  20 anos,  cabo do Exército Brasileiro; e Yuri, 16 anos, que  cursa o Ensino Médio.

Apesar de toda a felicidade, Maria ainda queria adotar uma menina. Através de uma amiga, conheceu a pequena Paula, de 7 anos. Ela morava no orfanato Vinde a Mim as Criancinhas. Hoje, Paula tem 16 anos.

 

Atualmente a família habita no Jardim Atlântico. Mas as raízes permanecem no coração das comunidades. O casal e os quatro filhos trabalham em união, na busca de melhorar a qualidade de vidas das pessoas do Monte Cristo e de tantas outras que fazem parte da história deles.

 

“Tenho orgulho do que fizemos e do que continuamos realizando na região. Dia após dia, lutamos para ajudar os moradores e as crianças. Todos merecem uma vida melhor. Todos possuem o direito de sonhar com um novo futuro”, resumiu Maria Lúcia.


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