Secretaria Municipal de Educação

03/06/2016 - Educação
Professora pesquisa Funk Brasileiro
Trabalho de Juliana Borguetti será apresentado em seminário de música da SME

foto/divulgação: sme

As atividades ocorrerão das 8h às 18h na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

A valorização da diversidade de qualquer ordem, seja de orientação sexual, cultural, religiosa ou etnia e o combate a comportamentos inaceitáveis, como a violência, a homofobia e o racismo, são temas abordados através da música nas aulas da professora Juliana Borguetti.

 

Como parte de sua pesquisa de Mestrado em Música, desenvolveu uma ação educativa que teve como tema o funk brasileiro com uma turma de 6º ano em uma escola da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. Em seu cotidiano como professora, observou que existe preconceito e mesmo aversão a esse gênero musical e partiu desse repertório para explorar e acompanhar os processos de ensino e aprendizagem musical.

 

Parte do resultado de seu trabalho será apresentado, na segunda-feira (06/06), na 3ª edição do Seminário de Música da Rede Municipal de Ensino. As atividades ocorrerão das 8h às 18h na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

 

Como uma das possibilidades para as aulas de música na perspectiva de um ensino onde os repertórios interagem, a experiência mostrou que o funk brasileiro possui potencial para o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades musicais, abrindo espaço também para discussões sobre o respeito e valorização da diversidade.

 

 

Uma viagem aos anos 1970

 

O funk brasileiro desenvolveu-se no Brasil a partir dos anos de 1970, sob influência da música negra (blackmusic) dos Estados Unidos. Os chamados Bailes da pesada eram realizados inicialmente na zona sul do Rio de Janeiro – área de maior poder aquisitivo da cidade – e tinham como repertório rock, pop e soul norte-americanos.

 

Com o tempo, os bailes foram transferidos para clubes em bairros de subúrbio quando surgiram as equipes de som para organizar e animar bailes menores. As equipes possuíam os equipamentos de som e iluminação, os discotecários (ou disk jockey – DJ) eram os donos das equipes ou contratados, e tocavam discos importados principalmente dos Estados Unidos. Nessa época, eram realizados centenas de bailes a cada fim de semana com um público de milhares de pessoas em cada um destes.

 

O primeiro funk carioca é atribuído ao DJ Marlboro, o Melô da Mulher Feia lançado no ano de 1989. Em parceria com Grandmaster Raphael lançou os primeiros discos de funk carioca em 1989 e 1990, na mesma época em que surgiram os primeiros MCs – mestres de cerimônia. Com características e influência da música norte-americana, o funk carioca alcançou sucesso nacional em 2001 com o Bonde do Tigrão, desdobrando-se em diversos subgêneros, sendo consumido e produzido por todo o país.

 

 

Temas foram problematizados

 

Muitas vezes marginalizado em função de sua origem negra, suburbana, por letras que remetem ao erotismo e à criminalidade, o gênero é hoje difundido nos grandes meios de comunicação, com temáticas bastante variadas que vão desde a religião (funk gospel) até o ativismo social (funk feminista). Assim como em qualquer ação pedagógica responsável, os alunos não foram expostos a letras ou danças com conteúdo impróprio para sua faixa etária, mas esses temas foram devidamente problematizados durante as discussões em aula.

 

Para Juliana Borguetti, as características musicais variam entre os subgêneros do funk brasileiro, tendo o ritmo como elemento principal. Nas aulas de música, conforme a professora, foram desenvolvidas habilidades rítmicas utilizando o corpo, a percussão vocal (beat box) e instrumentos de percussão (pandeiros, tambores, etc.). A criação de um funk original ocorreu utilizando, além dos instrumentos, corpo e voz percutida, aplicativos de celular que simulam a atuação de um DJ e a voz cantada. Outros elementos e aspectos do conhecimento musical específico como dinâmica, timbre, melodia, arranjo e forma musical também foram abordados.

 

Juliana avalia que mais que isso, o engajamento no trabalho coletivo, o desenvolvimento da capacidade crítica, do respeito e valorização das diferenças entre os alunos demonstraram que o funk brasileiro - como parte da cultura do país e fortemente presente no cotidiano das crianças e adolescentes – é mais uma possibilidade, dentre tantas, na construção de uma educação verdadeiramente democrática.

 

A professora pretende promover o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades (musicais e extramusicais) previstos pela literatura em educação musical e pela legislação federal e municipal na forma de orientações curriculares. A partir dos dados coletados através da observação participativa e grupos focais, quer propor uma reflexão sobre o valor dessas manifestações musicais enquanto objeto de conhecimento musical com vistas a estimular uma atitude de respeito e valorização da diversidade.