FLORAM - Fundação Municipal do Meio Ambiente
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De autoria do biólogo Francisco Antônio da Silva Filho o projeto de recuperação ambiental entrará em prática assim que a empresa terceirizada contratada pela prefeitura terminar de remover grande parte do aterro e sobras de edificações que ficaram no entorno do Rio Papaquara.
A intenção é começar o mais urgente possível confessa o prefeito Dário Berger. “Já determinei a Secretaria de Obras que dê urgência na limpeza para que nunca mais tenhamos áreas de preservação permanente tomadas por especulares imobiliários e famílias que não possuem discernimento pra saber que estes locais são protegidos por lei”.
O biólogo Francisco Antonio informa que com a remoção das edificações e entulhos, a vegetação terá condições de se regenerar naturalmente e com o plantio de mudas haverá um incremento na diversidade das espécies, havendo então a necessidade da implantação de projeto de recuperação ambiental para atingir os objetivos da ação de desocupação do local.
O diretor superintendente da Floram Gerson Basso ressalta que a decisão do prefeito em retirar as famílias que lá viviam mobilizou grande parte das pastas do município. “Se não trabalhássemos em conjunto hoje não estaríamos comemorando o sucesso da operação”. O local foi alterado por implantação de aterro e de edificações há anos, restando pouca vegetação de porte arbóreo, predominando gramíneas e nas estremas vegetação arbustivo-arbórea típica de ambientes de transição de manguezal e Restinga Arbórea.
Projeto de Recuperação Ambiental de área degradada, nas margens do Rio Papaquara, Canasvieiras, Florianópolis/SC.
O objetivo deste projeto é a recuperação ambiental, através da recuperação da cobertura vegetal nas margens do rio Papaquara, abrangendo uma superfície de aproximadamente 6.000 (seis mil) m², utilizando-se exclusivamente espécies nativas típicas da transição de manguezal, Manguezal e Restinga Arbórea na Ilha de Santa Catarina, Florianópolis.
Com a recuperação busca-se a diminuição da forte interferência humana nas Áreas de Preservação Permanente – APP e dos espaços públicos.
3- Caracterização geral do local
A área em estudo está localizada no distrito de Canasvieiras, nas margens do rio Papaquara, no final da rua Braulina Machado, próximo ao Terminal de Canasvieiras - TICAN.
O terreno tem aproximadamente 6.000m², numa área de 120x50m, caracterizada como Áreas de Preservação Permanente – APP de curso d’água, prevista na legislação federal, estadual e municipal.
4- Caracterização da cobertura vegetal
A cobertura vegetal original do local – Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) é representada por espécies da transição de manguezal, Manguezal e Restinga Arbórea (VELOSO & GÓES FILHO, 1982).
5- Procedimentos
A revegetação é a principal prática para se obter a formação de um novo solo, controlar a erosão, evitar a poluição das águas e, se for escolhida a manutenção da ”vida selvagem” como uso futuro do solo, promover o retorno dessa vida (IBAMA, 1990).
A vegetação constituí-se num importante fator de controle da erosão, pois apresenta-se como barreira física ao transporte de material, proporciona uma estrutura mais sólida ao solo, devido ao sistema radicular, amortece o impacto das chuvas e eleva a porosidade da superfície, além de recompor a paisagem perturbada e reiniciar a cadeia de sucessão biológica (IBRAM, 1987).
5.1- Procedimentos preliminares
Para o início da revegetação há necessidade da liberação da área da ocupação irregular e a total limpeza do local, através da retirada de todo lixo e entulho originado da demolição das edificações, bem como de qualquer vestígio da obra que possa provocar a impermeabilização do solo e dificultar o desenvolvimento das mudas de plantas nativas a serem cultivadas.
5.2- Preparo e correção do solo
A área de cultivo se apresenta com solo completamente desnudo, em função da remoção das edificações, sem a camada natural de húmus, serrapilheira e matéria orgânica.
O preparo do solo nesta área, consiste na incorporação manual de matéria orgânica composta por húmus de minhoca, compostagem de restos vegetais e cama de aviário, adicionado de calcário dolomítico, com a finalidade de corrigir a acidez e a deficiência de cálcio e magnésio, acrescido de adubo mineral (N-P-K/5-20-10), na quantidade de 200 g/m2.
5.3- Coveamento, espaçamento e plantio
As covas devem ter dimensões adequadas ao tamanho do torrão das mudas, com no mínimo 0,40x0,40x0,40 metros, devendo ser abertas e adubadas com uma semana de antecedência ao plantio.
O espaçamento será ao acaso, sem dimensões pré-determinadas, nem obedecendo alinhamento, fazendo com que a área recuperada se aproxime ao máximo a distribuição natural, sem caracterizar um reflorestamento. Porém, para quantificação do número necessário de mudas utilizou-se o espaçamento de 2,0x2,0metros.
Para demarcação da Área de Preservação Permanente – APP será utilizado exemplares da espécie gerivá (Arecastrum romanzoffianum), com porte de 2 (dois) metros de altura, distantes entre si 2 (dois) metros, totalizando 26 (vinte e seis) mudas.
5.4- Qualidade, obtenção e porte das mudas
As mudas serão obtidas dos viveiros mantidos pela FLORAM, que produzam espécies nativas, devendo-se observar algumas características tais como:
- porte: optar por mudas de porte médio (0,50 metros de altura ou mais), uma vez que apresentam um maior índice de pega;
- sanidade: devem ter bom estado fitossanitário, isento de pragas, doenças, ferimentos e má formação.
Para a recuperação ambiental proposta há necessidade da obtenção de aproximadamente 1.000 (um mil) mudas das espécies nativas indicadas no item 5.8.
5.5- Tutoramento
O tutoramento consiste em oferecer à planta de altura considerável, uma sustentação firme, que consiste em uma estaca de madeira ou bambu, cravada fora do limite das raízes da muda, evitando danos causados com a movimentação da muda pelos ventos.
5.6- Coroamento
É a prática de se fazer a limpeza ao redor do caule das mudas, com o objetivo de proporcionar um bom desenvolvimento das plantas, até que as mesmas atinjam altura suficiente tal que a projeção da copa sombreie o solo, evitando o desenvolvimento de gramíneas e outras plantas invasoras.
5.7- Manutenção
A manutenção dos plantios será executada mediante vistorias periódicas com intervalo de 15 dias, realizando-se os seguintes tratos culturais:
- adubação de cobertura, caso for constatada deficiência nutricional;
- irrigação sempre que necessário, principalmente no período de pega das mudas;
- replantio das mudas mortas ou que não apresentarem boa pega;
- tratamento fitossanitário não é muito preocupante, com exceção de formigas carregadeiras, as quais devem ser controladas através do uso de iscas granuladas, acondicionadas em canudos de bambu espalhados por toda a área revegetada. Eventualmente, podem ser constatados ataques de brocas nos caules e lagartas nas folhas, que serão combatidas com aplicação de inseticida na forma líquida pulverizando-se as plantas.
5.8- Espécies selecionadas
Segundo SANTOS et al. (1992) as espécies vegetais a serem utilizadas na recuperação de áreas degradadas devem apresentar algumas características fundamentais, tais como: - crescimento relativamente rápido, capaz de enfrentar a concorrência com gramíneas de porte alto e outras herbáceas que ocorrem nas encostas; - sistema radicular bastante desenvolvido, de modo a formar uma trama de raízes, melhorando as condições físicas e aumentando a estabilidade do solo; - copa larga e densa, com boa capacidade de interceptação da água da chuva e de sombreamento das herbáceas invasoras; - boa deposição de matéria orgânica no solo, protegendo-o e melhorando suas características físicas e químicas; - rusticidade, desenvolvendo-se em solos erodidos, com baixo teor de matéria orgânica, baixa fertilidade, suportando períodos de estiagem, resistente a pragas e doenças e mesmo pequenas queimadas.
Ainda segundo os mesmos autores, as espécies pioneiras e secundárias iniciais são as que melhor se enquadram nessas características, dando início ao processo de sucessão ecológica, permitindo posterior estabelecimento de espécies mais exigentes.
Na tabela a seguir estão listadas as espécies indicadas para a recuperação:
Nome científico |
Nome popular |
Família |
Allophyllus edulis |
Vacum |
Sapindaceae |
Annona glabra |
Corticeira-da-praia |
Annonaceae |
Arecastrum romanzofianum |
Gerivá |
Arecaceae |
Campomanesia xanthocarpa |
Gabiroba |
Myrtaceae |
Clusia criuva |
Mangue-formiga |
Clusiaceae |
Dalbergia ecasthophyla |
Marmeleiro-da-praia |
Fabaceae |
Erythroxylum argentinum |
Cocão |
Erythroxylaceae |
Eugenia umbelliflora |
Baguaçú-mirim |
Myrtaceae |
Eugenia uniflora |
Pitanga |
Myrtaceae |
Guapira opposita |
Maria-mole |
Nyctaginaceae |
Ilex dumosa |
Caúna |
Aquifoliaceae |
Ilex theezans |
Caúna |
Aquifoliaceae |
Miconia ligustroides |
Jacatirãozinho |
Melatomataceae |
Mimosa bimucronata |
Espinheiro |
Mimosaceae |
Peschiera catharinensis |
Jasmim-catavento |
Apocynaceae |
Rapanea ferruginea |
Capororoca |
Myrsinaceae |
Sapium glandulatum |
Pau-leiteiro |
Euphorbiaceae |
Schinus terebinthifolius |
Aroeira-vermelha |
Anacardiaceae |
Trema micrantha |
Grandiúva |
Ulmaceae |
A escolha das espécies vegetais apropriadas ao plantio é talvez uma das etapas mais importantes da revegetação. É dela que vai depender a característica da composição da cobertura vegetal, devendo-se buscar sempre aqueles componentes das formações vegetais das proximidades, visando uma composição o mais próxima possível do natural e típico do local estudado.
No presente caso, foram reconhecidas espécies nativas com base nestas características ou que possam efetivamente ser utilizadas, principalmente no que implica na produção e disponibilidade de mudas e/ou sementes para utilização na revegetação.
Dado o seu caráter pioneiro, estas espécies apresentam particularidades que contribuem para sua resistência a fatores adversos por ventura atuantes em determinados locais ou estações do ano. Estas particularidades são consideradas como exigências para sua manutenção nos sítios que ocupam, e as plantas a serem utilizadas no processo de revegetação deverão ser escolhidas com base neste critério.
6- Cronograma
O período da execução dos serviços que envolvem a preparação do terreno e plantio é mostrado na tabela abaixo, durando 04 semanas após o seu início, a partir da remoção completa das edificações e dos entulhos.
Atividade |
Semana 1 |
Semana 2 |
Semana 3 |
Semana 4 |
Preparação do terreno |
X |
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Obtenção das mudas |
X |
X |
X |
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Preparação das covas |
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X |
X |
X |
Plantio |
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X |
X |
X |
As atividades de manutenção e reposição das mudas mortas serão prolongadas por um período de um ano, após o término do plantio.
Responsável Técnico: Francisco Antônio da Silva Filho
Biólogo - CRBio 4626/03D
Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis – FLORAM